Paul McCartney - "Live And Let Die"
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Quando alguém se dá ao trabalho de sentar, ler as sinopses de todos os filmes da programação, fazer uma lista, adaptá-la ao seu horário, passar quatro horas numa fila pra não conseguir comprar todos os ingressos (como eu fiz), ainda voltar para comprar os que faltam, inveitávelmente acaba passando por um desastre e por uma obra de arte. Meu desastre nesse festival foi "Sujos e Sábios": Primeiro não teve legenda, depois o volume tava baixo, depois o sm sumiu, aí quando o som voltou foi a imagem que sumiu, aí, pra não atrapalhar, quando a imagem voltou vi um filme ser rebobinado na telona. Mas agora vou escrever sobre a obra de arte que acabei de ver: "Vocês, Os Vivos" (Du Levande, de Roy Andersson, Suécia/Alemanha 2008).

O filme INTEIRO é montado em plano aberto e quase todo em câmera estática. As duas exceções são uma caminhada e um microtravelling. Assim ele mostra situações tão cotidianas que chegam a ser banais, tão banais que chegam a ser fúteis e tão fúteis que chegam a ser engraçadas. Um filme maravilhoso, que de forma simples consegue mostrar as fragilidades das relações humanas e como nossas vidas são vazias. Aqueles personagens poderiam ser eu e você, e isso assusta. Andersson revela a alma humana através de uma série de eventos vazios.

O filme começa citando um famoso epígrafo de Goethe: "Be pleased then, you the living, in your delightfully warmed bed, before Lethe's ice-cold will lick your escaping foot" (em tradução livre: Agradeçam então, vocês os vivos, em sua deliciosa cama aquecida, antes que a brisa congelante de Lethe lamba seu pé descoberto). Sem dúvida poderia acabar com "Logo, logo nós saberemos, se aprendemos a aceitar que as estrelas não se apagam quando morremos." (poema de Abba Kovner). É, também podia terminar de fomra mais direta com algo do tipo "A vida é uma merda, você se fode e empacota depois", afinal, não morrem os personagens quando o filme acaba? Não morremos todos quando NOSSO filme termina?

Mais tarde vou escrever sobre o documentário "Plavra (En)Cantada" (de Helena Solberg, Brasil 2008).
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